Apesar do número de cristãos ter
aumentado consideravelmente nos últimos tempos, as famílias, as comunidades e a
sociedade continuam atoladas em seus problemas, continuam desmoronando e indo
de mal a pior.
Por que algo tão contraditório tem
acontecido?
A igreja tem deixado a vida
pública e abandonado o mercado de trabalho porque substituiu a cosmovisão
bíblica por elementos da cosmovisão animista – um dualismo grego que faz
separação de realidades entre física e espiritual pressupondo que a espiritual
é a mais importante, bem como por elementos da cosmovisão materialista – Essa
cosmovisão materialista vai nos informar que o trabalho é apenas uma forma de
sustentar o nosso status quo. Assim, vamos viver nos equiparando aos nossos
vizinhos em relação ao prestígio de nossas carreiras e em relação a maneira
confortável que mantemos as nossas famílias. Vamos nos pegar pensando no quanto
seríamos mais felizes se conseguíssemos trocar o nosso carro por um carro do
ano, ou se mudássemos de bairro... Quem sabe se acrescentássemos mais alguns
cômodos à nossa residência. Nesse sentido, o trabalho vai sim se tornar um
ídolo, um deus e nós, cristãos, vamos nos sentir perturbados quando vermos o
quanto não somente fazemos parte desse mundo, mas o quanto também somos dele...
O quanto nos dedicamos ao trabalho porque buscamos exatamente as mesmas coisas
que os gentios buscam... o que vestir, o que comer e o que beber. A visão
animista, por sua vez, irá apresentar o trabalho como uma fatalidade... Ele é
intrínseco à sobrevivência. Não há o que fazer, precisamos trabalhar se
quisermos viver.
O Cristão, portanto, por ter
deixado sua visão de trabalho ser moldada por tais elementos, vai deixar
escapar o verdadeiro impulso ao trabalho diligente... Aquele impulso de revelar
beleza, verdade e justiça, foi substituído por satisfação do ego e
sobrevivência... Resta então buscar por algo que seja espiritual, afinal de
contas ele foi ensinado que se não estiver no “ministério” é um cristão de segunda
categoria, alguém menos espiritual. Vai começar a se sentir culpado em relação
a qualquer trabalho secular que realizar... É preciso deixar o mundo em busca
do espiritual. É preciso deixar a arena secular e entrar na arena espiritual
para que eu me torne um obreiro de tempo integral. Desse modo, pastores,
evangelistas, apóstolos, missionários, estes sim trabalham integralmente na
obra, já que somente esse tipo de atividade é espiritual. Empresários,
agricultores, contabilistas, cineastas, essas são atividades seculares,
portanto, menos espirituais e inferiores. Alguns, nesse engano, vão conseguir
deixar o trabalho, outros não. Esses que não conseguirem vão começar a sentir
que precisam compensar isso de algum modo. Pensarão: como não consigo ser um
obreiro de tempo integral vou realizar atividades espirituais dentro do meu
ambiente de trabalho. Começam, então, a promover reuniões de célula, grupos de
oração, colocam louvor para tocar o dia inteiro... Não estou dizendo que é
errado fazer isso, o que estou dizendo é que muitos assim farão, na maioria das
vezes até de modo inconveniente com a intenção de compensar algo, já que
profanaram aquilo que é legítimo e puro aos olhos de Deus. Essa dicotomia não
existe. Esse pensamento só irá nos tornar meras sombras do que fomos chamados
para ser. Desengajaremos a igreja e estaremos cada vez mais confinados nas
paredes dos prédios e fora do mundo onde estão as necessidades e os
necessitados. Nossa vida se resumirá a morrer e ir para o céu. A oração que
Jesus nos ensinou “venha o teu reino” perderá totalmente o sentido. Impediremos
que nações sejam discipuladas com base em verdade, beleza e justiça e que a
cultura do reino seja implantada.
Claro que sabemos que há pessoas
que são chamadas para atividades exclusivas na igreja, mas essa decisão não
pode ser baseada no erro de profanar o trabalho em si. Antes de abandonar a sua
carreira, reflita se ela não pode ser a forma pela qual Deus irá cumprir os
propósitos Dele em sua vida e por meio de sua vida.
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