terça-feira, 17 de maio de 2016

O cristão e o mercado de trabalho

Apesar do número de cristãos ter aumentado consideravelmente nos últimos tempos, as famílias, as comunidades e a sociedade continuam atoladas em seus problemas, continuam desmoronando e indo de mal a pior.

Por que algo tão contraditório tem acontecido?

A igreja tem deixado a vida pública e abandonado o mercado de trabalho porque substituiu a cosmovisão bíblica por elementos da cosmovisão animista – um dualismo grego que faz separação de realidades entre física e espiritual pressupondo que a espiritual é a mais importante, bem como por elementos da cosmovisão materialista – Essa cosmovisão materialista vai nos informar que o trabalho é apenas uma forma de sustentar o nosso status quo. Assim, vamos viver nos equiparando aos nossos vizinhos em relação ao prestígio de nossas carreiras e em relação a maneira confortável que mantemos as nossas famílias. Vamos nos pegar pensando no quanto seríamos mais felizes se conseguíssemos trocar o nosso carro por um carro do ano, ou se mudássemos de bairro... Quem sabe se acrescentássemos mais alguns cômodos à nossa residência. Nesse sentido, o trabalho vai sim se tornar um ídolo, um deus e nós, cristãos, vamos nos sentir perturbados quando vermos o quanto não somente fazemos parte desse mundo, mas o quanto também somos dele... O quanto nos dedicamos ao trabalho porque buscamos exatamente as mesmas coisas que os gentios buscam... o que vestir, o que comer e o que beber. A visão animista, por sua vez, irá apresentar o trabalho como uma fatalidade... Ele é intrínseco à sobrevivência. Não há o que fazer, precisamos trabalhar se quisermos viver.
O Cristão, portanto, por ter deixado sua visão de trabalho ser moldada por tais elementos, vai deixar escapar o verdadeiro impulso ao trabalho diligente... Aquele impulso de revelar beleza, verdade e justiça, foi substituído por satisfação do ego e sobrevivência... Resta então buscar por algo que seja espiritual, afinal de contas ele foi ensinado que se não estiver no “ministério” é um cristão de segunda categoria, alguém menos espiritual. Vai começar a se sentir culpado em relação a qualquer trabalho secular que realizar... É preciso deixar o mundo em busca do espiritual. É preciso deixar a arena secular e entrar na arena espiritual para que eu me torne um obreiro de tempo integral. Desse modo, pastores, evangelistas, apóstolos, missionários, estes sim trabalham integralmente na obra, já que somente esse tipo de atividade é espiritual. Empresários, agricultores, contabilistas, cineastas, essas são atividades seculares, portanto, menos espirituais e inferiores. Alguns, nesse engano, vão conseguir deixar o trabalho, outros não. Esses que não conseguirem vão começar a sentir que precisam compensar isso de algum modo. Pensarão: como não consigo ser um obreiro de tempo integral vou realizar atividades espirituais dentro do meu ambiente de trabalho. Começam, então, a promover reuniões de célula, grupos de oração, colocam louvor para tocar o dia inteiro... Não estou dizendo que é errado fazer isso, o que estou dizendo é que muitos assim farão, na maioria das vezes até de modo inconveniente com a intenção de compensar algo, já que profanaram aquilo que é legítimo e puro aos olhos de Deus. Essa dicotomia não existe. Esse pensamento só irá nos tornar meras sombras do que fomos chamados para ser. Desengajaremos a igreja e estaremos cada vez mais confinados nas paredes dos prédios e fora do mundo onde estão as necessidades e os necessitados. Nossa vida se resumirá a morrer e ir para o céu. A oração que Jesus nos ensinou “venha o teu reino” perderá totalmente o sentido. Impediremos que nações sejam discipuladas com base em verdade, beleza e justiça e que a cultura do reino seja implantada.
Claro que sabemos que há pessoas que são chamadas para atividades exclusivas na igreja, mas essa decisão não pode ser baseada no erro de profanar o trabalho em si. Antes de abandonar a sua carreira, reflita se ela não pode ser a forma pela qual Deus irá cumprir os propósitos Dele em sua vida e por meio de sua vida.


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